Por Jaqueline Sordi

Janeiro, 2024 - O Brasil é o sexto país no mundo com o maior número de pessoas diagnosticadas com diabetes, de acordo com o mais recente atlas (página 37) da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês). Mesmo assim, a doença ainda é cercada de dúvidas e incertezas. Muito se deve às informações falsas que circulam sobre o assunto, mas muito também ocorre pelo fato de existirem diversos tipos de diabetes, cada um com características próprias.

Essa é uma doença multifatorial representada por um conjunto de alterações metabólicas que aumentam o nível de glicose (açúcar) no sangue. Esse aumento ocorre tanto por uma falta ou redução na produção de insulina, que é o hormônio responsável por levar a glicose que circula na corrente sanguínea para dentro das células para ser transformada em energia, quanto por um aumento da resistência do organismo à ação desse hormônio. Quem produz a insulina é o pâncreas, mais especificamente as chamadas células beta do órgão. Quando há uma deficiência nesse processo, a pessoa desenvolve um quadro chamado hiperglicemia, que é o aumento do nível de glicose circulando no sangue. Ao longo do tempo, esse acúmulo de açúcar pode causar uma série de complicações como danos aos olhos, rins e nervos, além de aumentar o risco de doenças cardiovasculares, entre outros.

Dentre as dezenas de tipos de diabetes, três são mais comuns: tipo 1, tipo 2 e o diabetes gestacional. A Lupa conversou com especialistas para entender as principais diferenças entre cada tipo, as formas de prevenção – quando existem – além dos principais exames e tratamentos disponíveis. Confira:

Diabetes tipo 1

Responsável por cerca de 5% a 10% dos casos de diabetes no mundo, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (DCD, pela sigla em inglês), o diabetes tipo 1 acontece por uma reação autoimune na maioria dos casos, ou seja, quando as células de defesa do corpo atacam as células beta produtoras de insulina do pâncreas, ocasionando uma diminuição e/ou deficiência absoluta na produção desse hormônio com o tempo. 

“O gatilho, o desencadear desse processo ainda é desconhecido, mas se sabe que é um tipo de diabetes característico da infância e adolescência”, explica o endocrinologista Fadlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD).

De fato, essa é uma das doenças crônicas mais comuns da infância, ainda que possa vir a ocorrer em qualquer idade. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil é o 3º país no mundo (página 45) em casos absolutos de diabetes tipo 1, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Para especialistas da entidade, uma explicação provável (página 13) para o desenvolvimento da doença é uma combinação da suscetibilidade genética (que ocorre pela ação de um grande número de genes) com um gatilho ambiental, como uma infecção viral, que poderia ser responsável por iniciar a reação autoimune.

Como os fatores que desencadeiam a doença ainda não são totalmente conhecidos, não há como prevenir o tipo 1 de diabetes, mas é possível afastar as complicações causadas por ele. Para isso, o primeiro passo é ficar atento aos sintomas para que o diagnóstico seja feito o quanto antes. Entre os sinais mais comuns, estão sede constante, boca seca, vontade de urinar a toda hora, perda de peso, formigamento nas pernas, entre outros.

Quando a doença é confirmada, pacientes com diabetes tipo 1 precisam necessariamente de tratamento medicamentoso ao longo de toda a vida, que consiste em reposição de insulina (normalmente por aplicação de injeções diárias), além da adoção de hábitos de vida saudáveis, como controle da alimentação e prática de exercícios físicos, já que eles ajudam a reduzir a quantidade de açúcar no sangue.

Diabetes tipo 2

Este é o tipo mais comum da doença, responsável por cerca de 90% a 95% dos diagnósticos em todo o mundo, de acordo com diretrizes (página 20) da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Curiosamente, é o único tipo prevenível ou possível de ser retardado. Ele acontece quando há uma incapacidade das células do corpo de responder plenamente à ação da insulina (o que se denomina de resistência insulínica) e/ou uma queda na produção deste hormônio pelo pâncreas.

As causas do diabetes tipo 2 não são completamente compreendidas, mas diversos estudos, já comprovaram que estão fortemente associadas com sobrepeso e obesidade (já que o tecido adiposo dificulta a ação da insulina), sedentarismo, aumento da idade (uma vez que o corpo vai perdendo a capacidade de produzir insulina com o tempo), além da etnia e herança genética.

“Esse é um tipo de diabetes clássico do adulto e idoso que tem histórico na família e que normalmente apresenta obesidade abdominal. Atualmente, os hábitos de vida mais modernos e ocidentais, como sedentarismo, excesso de caloria e aumento de  tempo em frente às telas têm provocado um aumento de casos de diabetes tipo 2 em todo o mundo”, alerta o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. E a epidemia de obesidade entre crianças e adolescentes tem feito os casos crescerem também entre os mais jovens.

Diferentemente do diabetes tipo 1, em que os sintomas aparecem de forma mais evidente, no tipo 2 eles podem ser mais sutis e evoluírem de forma lenta. Como resultado, muitas vezes há um longo período de pré-diagnóstico, em que o excesso de açúcar no sangue já está causando danos sem que a pessoa saiba, além de um grande número de pessoas que já são portadoras de diabetes, mas que só vão ser diagnosticadas quando começam a apresentar outras doenças associadas, como deficiências visuais, úlceras nos membros inferiores, entre outros.

Como é uma enfermidade que tem um forte fator ambiental associado – os chamados “maus hábitos” de vida –, a melhor forma de prevenir e retardar a doença é manter uma dieta equilibrada, uma prática regular de exercícios físicos e um controle regular dos níveis de açúcar no sangue por meio de exames laboratoriais. Esse controle deve ser feito principalmente em pessoas com 45 anos ou mais, já que as chances de desenvolver a doença aumentam com a idade.  No entanto, quem tem alguns fatores de risco para a doença, como obesidade e histórico familiar, precisa iniciar esse rastreio mais cedo.

Para aqueles que já são portadores de diabetes tipo 2 e precisam controlar o nível de açúcar no sangue, as indicações são as mesmas usadas para a prevenção, muitas vezes acrescidas de medicamentos para controle do índice glicêmico. Ainda não há cura para o diabetes tipo 2, mas, desde 2021 a Associação Americana de Diabetes (ADA, pela sigla em inglês) passou a definir que alguns pacientes tratados que conseguem manter uma taxa de glicose normal no sangue por pelo menos três meses sem uso de medicação podem ser considerados “em remissão” da doença. Ainda não se sabe quanto tempo essa remissão pode durar.

Diabetes gestacional

Esse é um tipo de diabetes caracterizado por um aumento dos níveis de glicose no sangue durante a gravidez, que costuma ser diagnosticado no segundo ou terceiro trimestre da gestação. Ele é considerado o problema metabólico mais frequente no período, e estudos populacionais apontam que atinge uma média de 16,2% das gestantes no mundo.

Toda mulher grávida sofre alterações hormonais que são típicas deste período,e importantes para o desenvolvimento do feto e viabilidade da placenta. “No entanto, alguns desses hormônios tendem a aumentar o nível de glicose no sangue. Mulheres que têm um funcionamento adequado do pâncreas conseguem produzir mais insulina para suprir isso. Já naquelas com maior susceptibilidade, como portadoras de obesidade, com idade mais avançada, histórico familiar de diabetes, ovários policísticos, entre outros, é possível que a ação do pâncreas não consiga suprir a demanda, e aí ocorre um aumento nas taxas de açúcar no sangue durante esse período”, explica o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto.

Embora seja uma condição temporária para boa parte das mulheres, esse tipo de diabetes pode trazer complicações tanto à saúde da gestante como do bebê, se não for controlado. Entre elas, estão hipertensão, prejuízo aos rins, eclâmpsia ou pré-eclâmpsia, alterações no peso do feto e até malformações fetais. “Filhos de mães com diabetes gestacional também têm mais chance de ter diabetes no futuro”, observa o especialista.

Apesar de ser uma das condições metabólicas mais comuns da gestação, o diabetes gestacional pode ser controlado. Para isso, é preciso realizar o rastreio e diagnóstico correto, seguido do tratamento indicado. O Ministério da Saúde recomenda que as gestantes realizem o teste oral de tolerância à glicose entre a 24ª e 28ª semana de gestação.

Além disso, o endocrinologista Couri destaca que, mesmo sendo uma condição temporária, mulheres com diagnóstico de diabetes gestacional têm um risco maior de vir a desenvolver diabetes tipo 2 após a gestação. “Estudos já mostram que, 10 anos após o parto, cerca de 60% dessas mulheres acabam desenvolvendo o tipo 2 da doença. Por isso, é fundamental realizar um teste de controle da glicose entre 4 e 12 semanas depois do parto, e seguir realizando exames periódicos nos anos seguintes. Essas mulheres passam a ser consideradas grupo de risco”, destaca.

Nota da redação: este conteúdo é uma parceria da Lupa com a empresa global de saúde Novo Nordisk e tem como objetivo dar visibilidade a informações corretas sobre obesidade e diabetes.

Edição: Helena Bertho e Leandro Becker