Por Jaqueline Sordi

Novembro, 2023 - Imagine descobrir que você está a caminho de desenvolver uma doença sem cura, que pode causar infarto, cegueira e problemas nos rins, mas com chances de ser evitada sem nenhum tipo de remédio. Quando o assunto é diabetes tipo 2, isso não só é possível como já é realidade.

Diversos estudos têm revelado que mudanças nos hábitos alimentares e prática de exercícios físicos regulares são capazes de reverter um quadro de pré-diabetes, condição que afeta hoje cerca de 30 milhões de brasileiros, ou seja, 15% da população, segundo o endocrinologista Levimar Araújo, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Se o diagnóstico é feito precocemente, por meio de exames de rotina, e a transformação de vida é duradoura, pode-se evitar a doença.

Hoje, já são cerca de 20,7 milhões de brasileiros com diabetes, de acordo com a edição de 2023 da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde (página 104). O trabalho estima que 10,2% da população tenha a doença, uma alta em relação ao estudo de 2021, que apontava 9,1%.

Diabetes é uma doença crônica, caracterizada pelo acúmulo de açúcar no sangue em função da baixa produção, mau funcionamento ou mesmo ausência de insulina no organismo. Produzida pelo pâncreas, a insulina é um hormônio que tem atuação direta no metabolismo dos carboidratos ao permitir a entrada da glicose nas células e sua utilização como fonte de energia.

São várias as causas do diabetes. Segundo especialistas, as principais são: herança genética, alimentação hipercalórica, sedentarismo e obesidade. O excesso de peso é considerado um dos principais fatores de risco, já que o aumento do tecido adiposo (da gordura) produz hormônios que fazem com que as células de outros tecidos se tornem mais resistentes à ação da insulina. Mesmo produzindo o hormônio, o corpo passa a acumular açúcar no sangue, o que, aos poucos, danifica e impede o bom funcionamento dos órgãos.

Quem tem diabetes diagnosticado e não faz um controle rigoroso da glicose passa a conviver com o risco de desenvolver uma série de complicações, como cegueira, insuficiência renal, infarto e AVC.

Exame de sangue dá o alerta

Na maior parte das vezes, o diabetes se desenvolve de forma silenciosa, sem sintomas. É por isso que a prevenção funciona como um alerta e, em muitos casos, como uma segunda chance. Um simples exame de sangue, realizado em jejum, mostra se a pessoa está com a glicemia saudável, se tem pré-diabetes ou se já é portadora da enfermidade.

Taxas consideradas normais de açúcar no sangue são aquelas inferiores a 99 mg/dL (miligramas por decilitro, a unidade de medida usada para calcular a concentração de uma substância em um fluido específico). O que especialistas consideram uma “zona cinzenta”, denominada pré-diabetes, é a faixa que varia entre 100 mg/dL e 125 mg/dL.

Importante destacar ainda que o termo “pré”, apesar de amplamente utilizado, é criticado por alguns pesquisadores. “Eu prefiro chamar de estágio inicial de diabetes. É quando a doença, na maior parte das vezes, ainda não apresenta sintomas e há chances de reversão. Se esse estágio é ultrapassado, torna-se uma doença crônica, sem cura”, explica o endocrinologista Fadlo Fraige Filho, presidente da Federação Internacional de Diabetes para a Região da América Central e América do Sul e professor da Faculdade de Medicina da Fundação ABC (FMABC).

O termo “pré” ainda é utilizado porque nem todas as pessoas que apresentam as primeiras alterações no teste da glicemia desenvolvem o diabetes. De acordo com um estudo publicado na revista Diabetologia, da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes, cerca de 25% desses pacientes evoluem para quadros do tipo 2, 50% permanecem como estão e 25% revertem para a normalidade em um período de três a cinco anos.

Considerando-se apenas os idosos, pessoas com sobrepeso ou com outros fatores de risco, as taxas de evolução para o diagnóstico definitivo são maiores. “A questão é que, quando a doença evolui nesses pacientes, cerca de 50% deles já apresentam complicações como retinopatia [doença que afeta vasos da retina], coronariopatia [doença das artérias do coração],

hipertensão, entre outros”, afirma Fraige Filho. Os dados, portanto, ressaltam a fundamental importância de uma mudança no estilo de vida durante a fase de pré-diabetes.

Mudança de vida afasta risco da doença em até 71% dos casos

A indicação de exercícios e dieta como antídotos contra o diabetes tem base científica. Diante do risco do desenvolvimento da doença, sistemas de saúde públicos e entidades de todo o mundo têm adotado um método que ficou conhecido como Diabetes Prevention Program (DDP, ou Programa de Prevenção de Diabetes, em tradução livre). Indicado para pessoas com mais de 18 anos, tem o objetivo de criar nos participantes hábitos saudáveis e duradouros, que os façam perder peso ao longo de um ano.

De acordo com o Center for Diseases Control and Prevention (CDC, ou Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em tradução livre), dos Estados Unidos, o programa já provou ser eficaz na prevenção ou retardo do diabetes tipo 2. Ao ajudar pacientes a perder de 5% a 7% de seu peso corporal e adicionar 150 minutos de exercício por semana na rotina deles, o DDP pode reduzir o risco da enfermidade em até 58% (para pessoas de 18 a 59 anos) e de até 71% (para o grupo acima de 60 anos).

Os candidatos ao novo estilo de vida têm de se comprometer a cumprir um extenso programa de reeducação. São 33 sessões de uma hora cada focadas em nutrição saudável, atividade física, perda de peso e mudança de comportamento a longo prazo. Nos seis primeiros meses, as aulas são semanais para melhor aprendizagem das novas práticas.

“Esses são distúrbios genéticos agravados pelos hábitos de vida. Por isso, é importante que as mudanças para práticas saudáveis sejam duradouras. Caso contrário, a tendência é que as alterações [aumento nas taxas de glicose] voltem a se instalar”, alerta o endocrinologista Denis Paiva Ferraz, coordenador do Departamento de Síndrome Metabólica e Pré-Diabetes da SBD.

Pesquisas também já demonstraram que pessoas com pré-diabetes apresentam um risco maior de desenvolver doenças cardiovasculares e, por isso, a SBD recomenda a realização rotineira de exames para avaliar os níveis de glicose no sangue a partir dos 45 anos. Já para quem tem obesidade e histórico familiar, esse rastreio deve começar mais cedo. A recomendação é sempre consultar um especialista.

Nota da redação: este conteúdo é uma parceria da Lupa com a empresa global de saúde Novo Nordisk e tem como objetivo dar visibilidade a informações corretas sobre obesidade e diabetes.

Edição: Adriana Ferraz e Leandro Becke