Fevereiro, 2024 - A epidemia de obesidade que atinge jovens brasileiros está trazendo na carona uma série de doenças até então típicas de adultos e idosos, como diabetes. De acordo com um levantamento realizado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), da Fiocruz, e divulgado em novembro de 2023, o Brasil possui quase três vezes mais crianças de até 5 anos com excesso de peso (incluindo casos de sobrepeso e de obesidade) do que a média global (14,2% no Brasil em 2022 e 5,6% da média global registrada no mesmo ano). Ao mesmo tempo, uma pesquisa publicada em 2023 na revista Diabetes Care, mostra que o Brasil está entre os 10 países no mundo com maior número de casos de diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes. 

O excesso de peso afetou uma em cada dez crianças brasileiras e um em cada três adolescentes (10 a 18 anos) em 2022, de acordo com o levantamento do Observa Infância. Entre 2019 e 2021, período que engloba a pandemia de Covid-19, o número de crianças com excesso de peso no país cresceu 6,08%. Entre adolescentes, esse aumento foi ainda maior: de 17,2%.  

“Nos dias atuais, observa-se uma prevalência de ambiente caracterizado pelo alto consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras, além da baixa ingestão de alimentos in natura. Outra grande característica é a redução da prática de atividade física associada ao maior tempo de telas. Tais mudanças acompanham o aumento do diagnóstico de obesidade nas crianças e adolescentes”, destaca a nutróloga e pediatra Daniela Gomes,  chefe do setor de Obesidade da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Dentre as consequências desse cenário, está o aumento de casos de crianças e adolescentes com diabetes tipo 2 (DM2), um dos problemas crônicos mais fortemente ligados ao excesso de peso, e até pouco tempo considerada uma doença pouco comum nesta fase da vida. 

Diabetes é uma doença multifatorial caracterizada pelo aumento nos níveis de açúcar no sangue. A associação entre obesidade infantil e aumento dos casos dessa enfermidade ocorre porque o excesso de peso pode levar a um estado de resistência à ação da insulina, hormônio produzido no pâncreas responsável pela entrada de açúcar nas células. Quando essa condição persiste por muito tempo, há uma falência das células do pâncreas e, como consequência, uma diminuição na produção de insulina, o que provoca o aumento contínuo da glicose no sangue. 

Um estudo sobre o tema, publicado em 2019 na revista Pediatric Diabetes, avaliou mais de 37 mil estudantes brasileiros de 12 a 17 anos e encontrou uma prevalência de pré-diabetes (definida por valores de glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dL) de 22% e de diabetes de 3,3% (definida por valores acima de 126 mg/dL). Com base nestes dados, estimou-se que no Brasil existiam cerca de 213.830 adolescentes vivendo com DM2 e 1,46 milhões com pré-diabetes. 

“Diabetes em jovens preocupa porque quanto mais tempo a doença fica sem ser controlada mais tempo o excesso de açúcar no sangue permanece danificando os vasos sanguíneos, nervos, rins, entre outros órgãos”, explica o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto. Como resultado, as complicações relacionadas à essa enfermidade, como problemas oculares, doenças cardiovasculares e complicações renais, também passam a aparecer mais cedo. “Vários estudos já demonstram que quando comparamos o DM2 que inicia em jovens com aquele que inicia em adultos, o maior risco de complicações associadas está nos jovens. E isso é uma preocupação enorme”, complementa Dra. Monica Gabbay, coordenadora do Departamento de Diabetes na Pediatria da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

Apesar de preocupante, essa tendência de aumento de jovens com diabetes pode ser revertida, mas para tal é preciso de uma abordagem multifatorial que inclua escolas, famílias e governo. “O primeiro passo é uma mudança dentro de casa. Hoje já se sabe, por exemplo, que uma criança com um pai ou mãe portador de obesidade é 50% mais propensa a ter essa condição. As famílias precisam começar a mudar a escolha dos alimentos e a maneira como servem a comida. É preciso cozinhar mais, comprar menos comida pronta. Estimular a criança a comer um prato saudável. Esses hábitos só se criam quando são oferecidos à criança desde pequena”. Ainda, de acordo com a especialista, a oferta de alimentos nas escolas também precisa ser revista, priorizando mais opções de alimentos saudáveis e oferecendo menos comida processada e refrigerantes. “Para tal, é preciso diminuir o imposto que incide sobre os alimentos mais saudáveis, pois muitas famílias não conseguem ter acesso a eles atualmente”, destaca. 

Além disso, tanto em casa como na escola é fundamental o estímulo à prática regular de atividade física, atenção à higiene do sono e suporte psicológico. “Essas questões são essenciais para o processo de perda de peso. Portanto, políticas públicas que assegurem esses pontos são essenciais para o combate à obesidade”, complementa a nutróloga e pediatra Daniela Gomes. 

Outro ponto importante, apontado pelo endocrinologista Carlos Eduardo Couri, é o acompanhamento médico e a realização de exames de rotina, principalmente em crianças portadoras de obesidade. “Check up é coisa de criança também. Ainda mais aquelas com excesso de peso. O pediatra moderno hoje tem que estar atento a isso. Diabetes é uma doença silenciosa porque os efeitos da glicose alta começam a aparecer só com o tempo. E é importante ressaltar que, se a pessoa tiver um controle glicêmico, ela pode ter uma vida saudável semelhante à de quem não tem diabetes”, conclui.  

 

Nota da redação: este conteúdo é uma parceria da Lupa com a empresa global de saúde Novo Nordisk e tem como objetivo dar visibilidade a informações corretas sobre obesidade e diabetes.

 

Promomats: BR24NNG00024 – JANEIRO/2024

 

Edição: Helena Bertho e Luciana Corrêa

 

Referências (linkadas no texto, para conferência):
Observatório de saúde na infância. Obesidade em crianças e jovens cresce no Brasil na pandemia - Fiocruz/Unifase, disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/obesidade-em-criancas-e-jovens-cresce-no-brasil-na-pandemia. Acessado em janeiro de 2024. 



Perng W, Conway R, Mayer-Davis E, et al. Youth-onset type 2 diabetes: the epidemiology of an awakening epidemic. Diabetes Care. 2023 Mar 1;46(3):490–9. 

 

Telo GH, Cureau FV, Szklo M, et al. Prevalence of type 2 diabetes among adolescents in Brazil: Findings from Study of Cardiovascular Risk in Adolescents (Erica). Pediatric Diabetes. 2019  Jun;20(4):389–96.