Por Jaqueline Sordi

Janeiro, 2024 - Os brasileiros estão ficando cada vez mais pesados, sedentários e ansiosos. E, se depender dos hábitos das gerações mais novas, esse cenário só tende a piorar. Pesquisas recentes têm revelado dados impactantes sobre o aumento do número de crianças, adolescentes e jovens adultos com sobrepeso ou obesidade no país, e também como os novos costumes colaboram para o quadro relatado se intensificar em alta velocidade.

De acordo com um dos estudos mais recentes sobre o tema, o Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), a taxa de obesidade aumentou 90% na faixa dos 18 aos 24 anos entre 2022 e 2023. O percentual de jovens com Índice de Massa Corporal (IMC) maior ou igual a 30 – o que já pode ser um indício de obesidade – passou de 9% para 17,1% (página 32)

O levantamento mostrou ainda que 63,1% dos jovens (18-24 anos) não praticam nem 150 minutos de atividade física por semana (página 36), o mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Na contramão, 76,1% (página 40) passam três horas ou mais por dia diante das telas, como celulares ou tablets. A prevalência de transtornos de saúde mental também foi mapeada. Segundo o Covitel, 31,6% dos brasileiros nessa faixa etária (5,5 milhões) têm ansiedade e 14,1% deles estão com depressão (2,4 milhões).

Divulgada em junho, a pesquisa confirma uma tendência de queda na qualidade de vida dos brasileiros. Em 2022, um artigo publicado na revista Scientific Reports estimou que sete em cada dez brasileiros terão excesso de peso até 2030. A pandemia de Covid-19 explica parte dessa previsão. Mas não é só isso.

“Claramente há relação com o estilo de vida que as pessoas estão levando. O sedentarismo acomete jovens e crianças cada vez mais cedo. As últimas gerações têm um comportamento muito diferente das anteriores em relação à alimentação e ao gasto de energia. Não se trata de uma simples matemática, mas de um complexo multifatorial”, afirma a endocrinologista e nutróloga Maria Clara Martins.

Fatores sociais elevam risco de desenvolver a doença

Considerada uma doença crônica, a obesidade é causada por um conjunto de fatores, como herança genética, sedentarismo e alimentação inadequada (baseada no consumo excessivo de gorduras saturadas, carboidratos refinados e bebidas alcoólicas), além de questões psicológicas, especialmente ansiedade e depressão. No caso do Brasil – e em vários outros países –, é preciso adicionar a essa conta um importante fator social. Aqui, a enfermidade está diretamente relacionada à pobreza e à insegurança alimentar.

O abismo social define o que vai no prato. Em busca de uma dieta mais equilibrada, famílias com melhores condições financeiras têm a oportunidade de optar por alimentos mais nutritivos e saudáveis. Já as mais pobres não têm poder de escolha e, muitas vezes, não têm o tempo necessário para preparar uma refeição adequada. Essa combinação leva ao consumo exagerado de comida industrializada, com preço inferior e sem qualquer qualidade nutricional. A troca de frutas e hortaliças por salgadinhos e refrigerantes na infância não compromete só o paladar das crianças, mas também o futuro delas.

“As pessoas estão cada vez mais sedentárias no Brasil e se alimentando muito mal, a partir de alimentos de baixo custo, especialmente ultraprocessados. Esse é um problema social e econômico no Brasil”, afirma o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da USP de Ribeirão Preto.

Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, compilados pelo Instituto Desiderata, corroboram a fala de Couri. O índice de crianças e jovens de 10 a 19 anos que responderam ter consumido hambúrguer e/ou embutidos no dia anterior à pesquisa cresceu de 40%, em 2015, para 70%, em 2021. Já o percentual que havia comido feijão caiu de 83,5% para 54,5% no mesmo intervalo.

Os dados preocupam porque crianças e jovens com obesidade têm mais chances de se tornarem adultos com obesidade e de desenvolverem dezenas de comorbidades, como hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares. “O que acontece é que quanto mais tempo a pessoa está exposta às condições inflamatórias da obesidade, maior é o risco metabólico que ela tem de desenvolver as doenças associadas”, explica Maria Clara Martins.

O diabetes, por exemplo, é um risco real. “Já estamos vendo um aumento no número de crianças com o tipo 2 da doença, que até então afetava mais adultos e idosos. Isso se dá principalmente por causa da epidemia de obesidade”, complementa Couri.

Em 2017, um estudo publicado no Journal of the Endocrine Society, coordenado por pesquisadores do King’s College, uma entidade filantrópica do Reino Unido, já havia dado o alerta. O trabalho apontou que crianças com obesidade têm um risco quatro vezes maior de desenvolver diabetes tipo 2 em comparação com crianças de peso normal.

Solução passa por ações de promoção à saúde

De acordo com os especialistas, o Brasil deve investir em ações de promoção à saúde como estratégia para reduzir os dados alarmantes sobre obesidade. “Muitas pessoas sabem que determinados alimentos fazem mal, são viciantes e aumentam o risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Mas o apelo para se comer mal é muito mais presente do que as informações sobre saúde”, destaca a endocrinologista e nutróloga Maria Clara.

Ter acesso a diagnóstico e tratamento é igualmente importante. Para combater a obesidade, independentemente da idade do paciente, é preciso o apoio de equipes multidisciplinares, avaliações individuais, acompanhamento psicológico, prescrição de medicamentos e, em alguns casos, intervenção cirúrgica. Em todos eles, ajustes na alimentação e prática regular de exercícios físicos também fazem parte da jornada.

Para Maria Clara, o ideal é que o tratamento seja iniciado o quanto antes, já que fica cada vez mais difícil emagrecer com o passar do tempo. “Mas é importante destacar que em nenhuma idade é impossível perder peso.”

Nota da redação: este conteúdo é uma parceria da Lupa com a empresa global de saúde Novo Nordisk e tem como objetivo dar visibilidade a informações corretas sobre obesidade e diabetes.

Edição: Adriana Ferraz e Leandro Becker
BR23NNG00495 - DEZEMBRO/2023