Por Jaqueline Sordi
Janeiro, 2024 - O número de pessoas com diabetes, uma doença crônica, multifatorial e, na maioria dos casos, largamente evitável, deve mais do que dobrar nas próximas três décadas. A projeção é que o total atual, de aproximadamente 529 milhões de pacientes, alcance 1,3 bilhão até 2050 em todo o mundo, segundo estudo publicado em junho de 2023 pela revista científica The Lancet.
Se medidas de prevenção não forem tomadas, esse avanço deverá atingir todos os países do planeta, sem exceção. De acordo com o estudo, a crescente incidência da obesidade, que tem relação direta com o tipo 2 da doença, é uma das explicações da estimativa, assim como a desinformação.
Nesse contexto, o mito de que pessoas com diabetes não podem praticar exercícios pode até mesmo prejudicar a saúde de quem já tem a doença. Pesquisas científicas têm demonstrado os benefícios da atividade física e apontado a prática regular como um dos pilares para a prevenção e o tratamento do diabetes. Uma simples caminhada já tem potencial, por exemplo, para ajudar o organismo a controlar os níveis de glicemia no sangue.
Em janeiro de 2023, estudo publicado no Journal of the American Medical Association (Jama, ou Jornal da Associação Médica Americana, em tradução livre) mostrou que somente a atividade física, sem qualquer mudança nos hábitos alimentares, já foi capaz de reduzir pela metade a incidência de diabetes tipo 2 em pessoas com obesidade acompanhadas por pesquisadores da Universidade Fudan, na China, durante uma década.
No primeiro ano, os participantes foram divididos em grupos e orientados, sob supervisão profissional, a adotar diferentes rotinas de atividade física sem alterações na dieta. A prática foi mantida nos nove anos seguintes e, ao final do período de acompanhamento, o resultado foi significativo na comparação com outro grupo que se manteve sedentário: a incidência de casos de diabetes tipo 2 foi o dobro entre aqueles que não praticaram nenhuma atividade.
Quem faz exercício físico tem menos resistência à insulina
Diabetes é uma doença crônica que afeta a forma como o corpo regula os níveis de açúcar no sangue. Ela é causada pela ausência, produção insuficiente ou pelo mau funcionamento da insulina, o hormônio que facilita a entrada da glicose nas células para ser transformada em energia.
De acordo com o médico Renato Redorat, coordenador do Departamento de Exercício e Esporte em Diabetes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a prática regular de exercícios é considerada um dos pilares no tratamento e prevenção da doença porque ajuda no controle da glicemia, tanto a curto como a longo prazo.
“O exercício faz com que os receptores de membrana das células musculares captem mais glicose circulante no sangue. E o interessante é que isso ocorre independentemente da ação da insulina. Ou seja, somente a prática de atividade já é capaz de reduzir a concentração de glicose mesmo sem a atuação do principal hormônio responsável por isso”, destaca o especialista.
Renato Redorat explica que a prática regular de atividades físicas também melhora a resistência insulínica – condição que impede o hormônio (insulina) de atuar adequadamente, dificultando ou até mesmo impedindo que a glicose entre nas células. “O exercício tem ação nos receptores de membrana muscular, facilitando a tarefa do hormônio de transportar a glicose para dentro da célula. Mesmo em um organismo que produz pouca insulina, pode haver um transporte adequado de açúcar para dentro das células quando a pessoa realiza exercícios físicos”, afirma.
Musculação pode ajudar na produção de insulina
Novas linhas de investigação têm observado que os benefícios de se exercitar vão além do controle glicêmico e da resistência insulínica. Se a atividade realizada é de força, como a musculação, o organismo pode até secretar mais insulina.
A bióloga Gabriela Alves Bronczek estuda os efeitos do treinamento resistido – tipo de exercício que aumenta a força dos músculos com levantamento de peso ou uso de faixas elásticas –, sobre as células beta do pâncreas. São elas as responsáveis por produzir a insulina.
“Já há algum tempo foi descoberto que, quando realizamos exercícios, o músculo libera moléculas na circulação, chamadas de miocinas, que têm efeitos em várias células do corpo, inclusive nas células beta do pâncreas, melhorando o seu funcionamento”, explica Gabriela, que é doutora em biologia molecular e morfofuncional pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em artigo publicado no International Journal of Molecular Sciences, a bióloga e colegas da Unicamp mostraram que atividades que envolvem força física podem aumentar a secreção de insulina e a expressão de genes relacionados com o funcionamento das células beta do pâncreas. “A maioria dos trabalhos que investigam esse mecanismo utiliza protocolos de exercício aeróbico. Pouco tem sido investigado a respeito do exercício resistido, apesar de ambas as atividades contribuírem de alguma forma para o controle glicêmico. A combinação delas, portanto, pode ser ideal”, diz a pesquisadora.
Entre os benefícios a longo prazo da prática regular de atividade física para quem tem diabetes, estão a melhoria da capacidade cardiorrespiratória e a redução dos riscos de doenças coronárias. “Podemos citar ainda a melhora da composição corporal, já que o exercício físico tende a aumentar a massa magra e a reduzir a gordura visceral, um dos fatores que colaboram com a resistência insulínica. Além disso, quem se exercita ainda tende a reduzir o processo inflamatório do corpo”, destaca Gabriela Alves Bronczek.
Atualmente, a recomendação da Associação Americana de Diabetes (ADA) é que crianças e adolescentes com diabetes ou pré-diabetes pratiquem 60 minutos ou mais de atividade aeróbica de intensidade moderada ou vigorosa por dia, associada a exercícios de resistência ao menos três vezes por semana. A orientação serve também para adultos, mas com carga horária aumentada: 150 minutos de atividade física aeróbica de moderada a vigorosa intensidade por semana. O ideal é que todo o acompanhamento seja feito sempre por uma equipe multidisciplinar para o controle também da dieta e do uso de medicamentos, quando necessário.
Nota da redação: este conteúdo é uma parceria da Lupa com a empresa global de saúde Novo Nordisk e tem como objetivo dar visibilidade a informações corretas sobre obesidade e diabetes.
Edição: Adriana Ferraz e Leandro Becker