Quando eu comecei minha carreira corporativa nos anos 90 eu tinha uma imagem muito definida do que seria uma executiva de sucesso. Dentre outras coisas, envolvia a imagem de uma mulher de tailleur (um terninho, para as mais jovens) e scarpin. Era assim que eu via as executivas de sucesso, observava como elas se comportavam e, sinceramente, sentia uma enorme frustação por constatar que eu nunca seria igual a esse modelo. Existia dress code, behaviour code etc. O que não existia era o espaço para eu ser eu mesma. 

O mundo mudou, os terninhos e scarpins deram lugar ao jeans e ao tênis – graças a Deus – mas o desafio de refletir no espaço corporativo a composição da nossa sociedade e cultura ainda existe. E hoje, como líder de uma empresa de saúde, experimento uma oportunidade única e desafiadora de tornar esse espaço mais inclusivo e representativo, refletindo a pluralidade e diversidade da comunidade em que estamos inseridos. 

O ambiente corporativo não pode mais ser uma entidade isolada, ignorando lutas que podem parecer distintas, mas que considero cruciais para o desenvolvimento social pleno e justo, como a equidade de gênero e o combate à desinformação.

Na ciência e na saúde, vozes que propagam empatia, compaixão e compreensão fazem a diferença também para atingir a tão sonhada equidade. Não à toa, temos observado cada vez mais a representatividade e o protagonismo das mulheres, que trazem perspectivas únicas e provocações valiosas que enriquecem as principais tomadas de decisões de negócios.

Se não fosse por Marie Krogh, pesquisadora que, junto de seu marido, tornou acessível a técnica de extração e purificação de insulina, que melhorou a expectativa de pacientes com diabetes e originou a Novo Nordisk, há mais de 100 anos, eu mesma não estaria aqui, saída do setor cosmético e iniciando um desafio de liderança após completar tantos anos de experiência acumulada!

Se nossas antecessoras percorreram uma jornada solitária, pautada pelo desmerecimento e preconceitos, hoje temos a sorte de podermos contar umas com as outras, distribuindo nossa presença de forma mais equânime, promovendo uma cultura organizacional mais inclusiva e colaborativa, onde a segurança psicológica é uma prioridade. Pela primeira vez na história, as mulheres CEOs lideraram cerca de 10% das empresas da Fortune 500 em 2023, lista das maiores companhias dos EUA por receita. Além disso, o relatório The Ready-Now Leaders da ONG Conference Board mostrou que as organizações com pelo menos 30% de mulheres em cargos de liderança têm 12 vezes mais chance de estar entre as 20% melhores em desempenho financeiro. Com elas, há mais justiça social e impacto positivo na vida dos colaboradores. Na Novo Nordisk Brasil, somos 58% mulheres em posições de liderança e 64% na alta liderança.

No entanto, a disparidade salarial e a sub-representação feminina em cargos de alta gestão mostram que esse é um tema que ainda precisa de avanços. Foi revelado pelo relatório Women in the Workplace 2021, da consultoria McKinsey, que existem 20% de mulheres brancas na alta liderança das empresas e 62% de homens brancos ocupando estes cargos. Quando se fala de mulheres negras, a discrepância é ainda mais notória: são apenas 4%! Ainda estamos muito distantes de refletir a nossa sociedade nas corporações, por isso mesmo não podemos parar, nem de agir, nem de debater.

Quanto mais falamos sobre um tema, mais contribuímos para a educação sobre ele, mais combatemos também as falsas premissas e desinformação. Assim é também com as fake News, outro desafio da nossa sociedade que precisa ser endereçado pelas corporações, cujo impacto corrosivo é cada vez mais presente nas nossas vidas.

Sabemos o que pode acontecer quando falta discernimento entre o verdadeiro e o falso. Lamentamos ver pessoas com obesidade sendo estigmatizadas, pacientes com doenças crônicas à procura de soluções milagrosas e dificuldades de obter acesso a tratamento.

Quando o que está em jogo é uma notícia de saúde, precisamos garantir o efeito dominó: para que o paciente esteja devidamente informado, o médico precisa estar ciente, o farmacêutico do bairro deve ter informações disponíveis, familiares e cuidadores, ávidos por distribuir dicas milagrosas, precisam conhecer o que é fato e o que é fake. Ninguém melhor do que a fonte para ser agente dessa comunicação, e, nesse caso, as empresas possuem um real poder esclarecedor.

É assim que a Novo Nordisk atua na disseminação de notícias sobre seus medicamentos e é dessa forma que vem se mobilizando para contribuir com informação clara e confiável sobre um tema que domina o noticiário de hoje: o combate à obesidade. Em meio a uma enxurrada de narrativas, muitas vezes equivocadas, nós entendemos que participar dessa conversa já não era uma opção, mas sim uma necessidade, enquanto empresa cidadã e ética. E aí percebemos que nosso papel era para além do tradicional awareness sobre a doença, pedia uma postura educativa, somada à coragem de enfrentar os questionamentos sobre uso off-label, segurança e acesso, pontos cruciais para estabelecer uma conversa franca e transparente com a população.

Fake news se derrota com diálogo e, como detentoras de informações originais, as empresas têm a responsabilidade de combater ativamente a desinformação e promover uma cultura de transparência e rigor intelectual, com vigilância constante e resposta ágil.

Seja para instigar a equidade e a autenticidade no ambiente corporativo, seja para promover a transparência e o senso de responsabilidade na celeridade de divulgação da informação correta, as lideranças precisam de times diversos e vocais, que tragam novas perspectivas e soluções para esses temas complexos. Temos muito a ganhar quando buscamos trazer diversidade em todas as suas camadas para dentro das organizações; resulta numa equação que só vem somar expertises, bagagens e visões de mundo. Precisamos de todos para realizar a mudança que queremos na sociedade.